Maria da Penha

Maria da Penha

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Descarte

Descarte a carta que te prende ao jogo
A angústia do egoísmo evasivo
Por abnegação o incontestável
A patente vulnerável.

Descarte meu caro
A serenidade do rio onde tu lamentas
A seriedade de como tu gargalhas
O triste riso do palhaço.

Descarte a empáfia
O rigor não excessivo
O ato fastidioso
A clarividência do fato.

Descarte a literatura sem censura
O rito benevolente
O peso ao revés
A desafinação da autoria.

Descarte o lhano
Que de cândido e despretensioso nada tem.
DescARTE
Não, a arte de Descartes.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Odeio

Odeio o sorriso pálido
Odeio os bons dias sem nexo
Odeio a muito obrigada
Odeio o silêncio alheio
Odeio quem muito fala
Odeio a voz meiga massageada
Odeio quem desfila sem palco
Odeio aceitar o imperdoável
Odeio as sanguessugas
Odeio as juras secretas
Odeio o cheiro das flores mortas
Odeio a política
Odeio religião
Odeio a falta de espiritualidade
Odeio quem reverencia
Odeio a inércia destemida
Odeio carros e casas de outros
Odeio gente fedorenta
Odeio o perfeccionismo
Odeio compromissos indigestos
Odeio gente
Odeio quem dissimula o ódio
Odeio com todo o meu ódio
Ódio de quem sabe odiar.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Máscaras

Eu vivo com as minhas seis máscaras que confeccionei.
O dia da máscara de político para poder lidar com uma sociedade medíocre.
O dia da máscara de palhaço para fazer rir pessoas que não conseguem observar a tristeza do meu eu mais profundo.
O dia da máscara da fantasia para consolar os sonhos, alheio.
O dia da máscara da verdade para que duvidem de mim.
O dia da máscara da extravagância para que vejam, a minha versatilidade, a minha intolerância e a minha sabedoria, para que assim, eu seja reconhecida.
O dia da máscara da bondade e da feminilidade para que sintam a minha fragilidade.
São seis máscaras para cada um dos seis dias da semana que fazem a minha sobrevivência neste mundo insano.

A sétima máscara eu não consegui criar, nesse dia sou eu na minha performance real e louca que só uma pessoa no mundo conhece.

terça-feira, 12 de junho de 2012

Não pode ser meu

O homem que esquece a poesia
Esquece os gestos e as manias
Dilacera com os ancestrais.

O homem que se passa pelo capricho
Esquece a filosofia
Quebra os cristais.

O homem que se derrama em lágrimas
Mas se esquece da sociologia
Dilacera com a dicotomia.

O homem que dramatiza uma história
Esquece que na luta pode-se chegar à vitória
Mortifica a glória.

O homem que foge da realidade
Luta pela unicidade
Difama sentimentos da igualdade.

O homem que utiliza o seu olho cego
Vagueia na hipotética realidade
Rasga as páginas da história.

O homem que se esquece da empatia simbiótica
Relega as variáveis pela ausência do evento
Desvia a relevância.

O homem que rompe com a pintura abstrata
Deseja o que vê
Perde a imaginação.

O homem que a isto demonstra
Acomoda-se na ignorância
Rompe com a esperança.

O homem que ignora a realidade
Desconsidera o papel que o caos inevitável tem
Conjectura outra objeção.

O homem que se exime de toda culpa
Extingue a projeção imaginária
Elucubra em si.

O homem que imagina possuir com perfeição destinada
Esquece experiências compartilhadas
Despedaça o brio do porvir.

O homem que assim se coloca
Torna-se acre e esmaece à conquista.
E qualquer paixão lhe diverte.

O homem com essas atitudes
Perde todas as suas posses
E chora desgraçado.

Este homem não pode ser meu.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

A crise do lamento

Apoio os dedos finos
Das mãos enrugadas no teclado
Nenhum, encanto vejo acontecer
Nada surge em palavras

Lá vão dias e noites, adentro
Pescoço cansado
Ombros caídos
E dedilhando com os dedos finos no teclado

Não inspira, nenhum lamento
Será que também há crise
No sentimento?
Que lamento!

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Amor reverso

Num belo dia eu ouvi falar
Fizeram-te uma imprecação de males
Como prenúncio de morte.
Praga de gente sórdida.
Que nocividade é essa?
Uma árvore nascer dentro de mim?
Para que eu exploda?
Não entendi a malícia.
Fiquei torpe.
Predestinei à aversão.
E o infortúnio aconteceu.
A árvore nasceu, cresceu e criou raízes.
Dissipou dentro de mim.
Gerou frutos maravilhosos
As raízes entranharam-se no coração
Era a praga do amor reverso
De um amante em solidão.

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Aconchego

Que belo o que ousas proclamar,
Mesmo que seja em nome alheio
De ti, nunca vou me separar
Pois um grande amor é sempre verdadeiro.
Se sou rosa e tenho espinhos
És um cravo macio em que posso me aconchegar.