Maria da Penha

Maria da Penha

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Leitura oca

Não leias mais as escondidas o que escrevo,
Não mostres mais a tua burrice, que já conheço,
Ler sem saber interpretar.
Não, nunca fora amigo e muito menos amante,
Tu és um espaço vazio no horizonte
Que Deus se esqueceu de completar.

Vaidade

Beber para ter coragem de gritar
O grito dos indecentes
Da inconsequência
Da justificação que não convence.

Viajar para fugir da própria verdade
A verdade que está enraizada
Que acompanha em toda a caminhada
E da redoma não sairá.

Pássaro negro camuflado de mil cores
Para manter os milhares de amores,
Mas a chuva cairá
E as cores irão desbotar.

Manter um tapete vermelho estendido
Caminhar sobre ele desmilinguido
Com a bebida, as viagens e as cores,
Que causam dissabores.

Que presunção mal fundada
De quem mantém ostentação
Para merecer admiração
De uma qualidade do que é vão. 

Caiçara

Caiçara, paira na praia,
Vagabundo sem toalha
Sem préstimos para a gandaia
Malandro que gosta de rabo de saia.

Caiçara, em sua estupidez de canalha,
Vive na orla ordinária
Tolamente selvagem
Não se embaraça.

Caiçara, pouco polido,
Medíocre, sem nada de extraordinário,
Vivendo do conto do vigário,
Inteiramente grosseiro e mal-educado.

Caiçara, mil quilos a mais sobre a terra,
Que pesa pela sua ignorância
Dividindo-a sem elegância,
Humanidade humilhada pela sua hipocrisia.

Caiçara, veste a sua carapuça,
Saia de mansinho
Bem devagarzinho
Assim, não nos atrapalha.

Amigo

Amigo, o que queres de mim?
Todas as melhores pedras incrustadas no marfim?
Todas as minhas virtudes?
Quantas cobranças que me faz!
Pergunto ainda:
O que tens para mim?
Somente as loucuras dos seus lamentos?
Nunca esquece as minhas conjecturas?
Mas as suas, nunca haverás de lembrar?
Amigo, esqueço sempre as nossas desavenças,
Perdoo sempre, mas voltas a lesar.
Em cada mau trato, uma pedra se desprende do marfim,
A joia vai perdendo o seu valor
Ficando somente uma nuance
De uma amizade hesitante.

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Da neurose à psicose

Tens a neurose furtiva,
Vives alucinado e em delírios.
Na tua neura temos diálogos,
Na tua psicose, espasmos.
Nos diálogos rouba-me a distinção,
Sente-te sobranceiro
Denodado em seu valor.
Quando entras na alma das sombras
Veste-te de altivez,
Dos teus delírios à empáfia
Rebusca com apreensão
Com esmero excessivo
À sensação que precede o ataque,
Que já na crise aflitiva
Suga-me toda a energia,
Abrindo sulcos na terra.
Vejo pelos profundos rastros
Deslizando abaixo
O primor que fostes um dia.
Entro em profundo desassossego
De ver-te neste estágio iminente
Indo ao encontro do desenlace fatal.
Sinto-me rigorosamente impotente
De controlar os teus propósitos
Desde logo, subsistentes.

Tecnologias

Não fiquem irritados com as tecnologias
Elas não nos dão bola
Elas não se preocupam com nós.
Temos toda a liberdade em usá-las
Mas elas não nos pedem isso.
Elas podem nos dar acalantos
Mas também decepções
Nós a controlamos
Elas, não.

sábado, 3 de agosto de 2013

Agonia

O fardo que carregas agora
Não é nada perante o que está por vir.
Estarás na sofrível lida para tirar a nódoa
Do esfregaço criado pelo vinho derramado.

O que desejas que eu te dê agora?
O esquecimento, a dor em que agonizei...
A saudade desgarrada...
Não, dar-te-ei a verdade mais temida.

Dou-te a liberdade e o que ela oferece,
A natureza rústica
O cheiro das flores do agreste
A esperança mórbida da vida terrestre.

Tens tudo nas mãos para delinear a tua história
E quem sabe achar a mais nobre pepita
Que rola nas águas esquecidas.

E o que a mais te dou para te consolares?
O bálsamo das palavras agastadas
Que com elas curei as minhas feridas.